a décima oitava música mais tocada do rubel

céu
3 min readApr 23, 2022
caminhos

vez ou outra penso no tanto de vida que posso tá perdendo. me cobro vida enquanto vivo. me cobro tempo enquanto o perco. me cobro tantas coisas. tantas. decidi escrever sobre os últimos dias quase agora. estava sentada no sofá e pensei que precisava escrever. hoje é sexta. aniversário da minha amiga mar. dia da terra. na terça eu completei vinte sete anos de terra. dia da luta e resistência dos povos indígenas. no dia seguinte, quarta-feira pré feriado abri as portas da minha casa para um indígena. que me ensinou tanto sobre um povo que segue sendo explorado e morto por pessoas que não se importam com suas histórias e com suas vidas. às vezes a gente acha que já aprendeu tudo, né? vinte sete anos e ainda sinto que tão pouco sei, você também sente? sei que a lara de quinze anos ficaria muito feliz de nos ver aqui agora. gigantes naquilo que nos propomos fazer.

tem chovido bastante na floresta amazônica. dentro do meu apartamento imagino os animais correndo de um ponto a outro da floresta, tentando se proteger da chuva insistente. penso nas flores brotando nesse exato momento. as cem milhões de sementes que o paraquedista lançou no ar germinando agora. todas. penso nas milhões de coisas acontecendo nesse exato momento enquanto digito essas palavras. enquanto penso mais uma frase para ser digitada. muito das nossas ações são automáticas. li isso em algum lugar. de fato, muitas são. não demoro mais que dois segundos ao pensar e digitar o que pensei. meu cérebro sabe onde as letras se encontram e é tudo tão automático que preciso me esforçar para lembrar de quando eu não sabia onde essas letras se localizavam no teclado. quando eu demorava mais de sessenta segundos para digitar frases como essas. não te assusta a complexidade de um cérebro ainda tão pouco explorado? as coisas estão acontecendo o tempo inteiro. a todo instante. no momento em que escrevo essas palavras há alguém nascendo e outra morrendo. alguém aperta o gatilho. o rio segue seu curso. o mundo não para. às vezes a gente precisa se dar ao luxo de errar. a gente sempre faz o nosso melhor com o conhecimento que a gente tem no momento.

céu estrelado de alguma cidade da bolívia

semana passada acordei dentro de uma cabana no meio da selva. dirigi até a fronteira do brasil como a bolívia como havia planejado em janeiro. os únicos sons que a gente ouvia era o do vento entre as árvores e os bichinhos desviando de um galho a outro. lá onde um rio encontra outro. onde florestas se unem. onde o céu é mais perto da gente. onde dois países se chocam. duas realidades. duas nacionalidades. um único céu. as fronteiras só existem nos mapas. de perto só os muros que humanos com toda sua ignorância e ego ousam construir. as fronteiras não são visíveis quando não se há mapas. um cosmonauta russo uma vez escreveu que a terra, vista de longe, parecia só mais um enfeite de natal, que cabia na palma de uma mão humana. quanto mais ele se afastava, menos sentido faziam os mapas, porque de longe as fronteiras iam desaparecendo. o que ficava visível era o que nós seres humanos dividimos, não as linhas que nos dividem. esses dias eu li que nem sempre é certo acertar sempre. às vezes o erro é necessário para que mudanças sejam feitas. dia desses acordei preocupada com as minhas falhas. quando me esqueço de me colocar no lugar do meu próximo. quando julgo o outro através da lenta da minha realidade. quando deixo de ser grata pelo muito que tenho e pelo pouco que antes tive. quando esqueço que criar é subtrair. o erro pode mudar tudo.

guarda corpo

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céu

lara gosta de ler, escrever e compartilhar reflexões e poesias bonitas.