céu
2 min readJan 2, 2022

porto velho, 01 de janeiro de 2022

comi algodão doce. era rosinha bebê e não tinha aquele palitinho pra gente segurar. vi a fonte. as cores. as pessoas se abraçando. tinha muita esperança no ar. dava para sentir. o ar tinha cheiro de esperança. dois anos de pandemia. dois anos sem sair na rua sem máscara. dois anos pensando que a minha saúde mental não importa mais que a pessoa que passou o ano novo vendo o netinho por uma tela, ansiando a potência do abraço do encontro. o algodão doce tinha gosto de nuvem. nuvem cor de rosa, sabe? aquela que a gente só consegue ver quando nem é dia mais e nem é noite ainda. nesse momento exato. era esse o gosto. agora eu escrevo quase que no meio da floreta amazônica. sentada em um local que possivelmente era floresta como a que eu ousei tocar mais cedo. a floresta existe e é real. aqui o ar é leve. quente. úmido. muito úmido.

é verde. imensa. o rio madeira parece infinito. é um porto. em cada lugar que pisei pensei nos povos que habitavam aqui antes de nós. pensei nas tribos. nas mulheres amamentando seus filhos. pensei nas árvores mais velhas que a história desse país. maiores que muitos prédios. toquei. senti o que nunca havia sentido antes. li as notícias: o desmatamento na amazônia bate recordes em 2021. choro. me perco. não quero acreditar que continuamos destruindo o que nos fornece ar. o que nos fornece o de beber. o que nos fornece cura. não quero acreditar. penso na esperança. verde como essas árvores. na esperança que eu senti no ar ontem. que sinto agora e que espero sentir amanhã de manhã também.

ousei dormi no centro-oeste do país e acordar no norte. ousei colocar salvia na mala. junto da esperança. do afeto. da sede eterna de movimentar ideias em prol da democracia, da preservação, da liberdade, do trabalho justo, do crescimento da inclusão. cheguei com a mala cheia, mas aqui bastaria a esperança e a amabilidade. só. atraquei meu barco nesse porto. aqui estou aberta a descoberta. aberta ao novo.

sinto sua falta. queria que soubesse.

Lara

céu

lara gosta de ler, escrever e compartilhar reflexões e poesias bonitas.