sobre tudo o que se deve guardar, guarde o teu coração, porque dele procedem as fontes da vida. provérbios 4:23
ninguém mata alguém sem antes mata-lo no coração. tem gente que não mata com espada, mas mata com olhares e ações. é possível perdoar e é necessário. dizem que a gente só perdoa de fato quando não sofremos mais ao lembrar. eu não sei se esse texto vai conseguir ter um fim, caso não tenha, ele guardará o desejo de ser terminado um dia e, por enquanto, isso basta. tenho mentido pra mim mesma, sabe? me enganando. ontem eu ouvi: “se você não é boa, ninguém no mundo é”. a ferida continua tão aberta que é preciso tanto para que eu acredite nessa frase. é preciso que eu mova montanhas inteiras para poder acreditar. me desespero ao pensar que eu posso ficar mal novamente. lembro do abismo que me deixaram e tenho medo. medo de voltar pra lá. não consigo ser melhor. me sinto incapaz de ser melhor. tenho me esforçado tanto. tenho dado o meu máximo, mas não consigo ser melhor. queria que os meus dragões fossem moinhos de vento e que eu conseguisse girar esses moinhos novamente. o que escondo atrás desses desejos?
esses dias eu li: a única coisa que tu consegue ser é você. me quebrei dentro do que sou. às vezes a gente não consegue compreender algumas realidades e se não conseguimos, como podemos julgar? com que propriedade julgamos a história de outra pessoa se não conseguimos compreender a realidade de inserção? existem muitas coisas que são só nossas. só nossas. tenho medo de estar contribuindo de alguma forma para uma história única sobre quem sou e sobre as realidades que eu não conheço, entende? tenho medo de nunca conseguir ir mais além de nunca perder o medo de não ser boa o suficiente. medo de não está contribuindo suficiente pro mundo ser um lugar melhor. medo de ferir por sentir raiva ou rancor. medo. tenho medo. não sinto medo de homem, de leão, de cobra ou de aranha. tenho medo do que minhas atitudes podem causar, medo de não ser suficiente. de não olhar nos olhos do meu próximo por estar focada demais olhando pro espelho. eu tenho medo de aceitar a normalização do absurdo. tenho medo de conviver o resto da vida com um coração magoado e uma alma ferida. os medos rasgam o nosso corpo. escancaram as nossas fragilidades, sabe?
acredito que tudo que a gente coloca no mundo vira semente. acho que nos últimos anos coloquei tantas sementes apodrecidas nesse mundo. sinto que nada prosperou. nada foi digno. nada deu frutos. no meu coração plantei sementes de mágoas e sinto que ele sangra todos os dias. não quero voltar pro abismo, mas me sinto cada vez mais frágil. de alguma forma alguém me jogou no chão novamente e ainda não consigo levantar, limpar a roupa e os joelhos. mas preciso. preciso lembrar que ainda estou viva dentro de mim. lembra: você ainda está aí dentro. de alguma forma você ainda está ai. a única coisa que tu consegue ser é você. às vezes a gente só precisa levantar, limpar a sujeira e continuar caminhando. às vezes é só isso. isso requer um pouco de força, camarada. isso requer joelhos fortes e punhos firmes. mas se posso te dizer algo, mantenha os punhos firmes e o coração quebrantado diante de toda realidade, seja ela imposta ou não. talvez assim ele se abra e reflita luz no caminhar.
